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quarta-feira, 3 de abril de 2019

QUITERIANÓPOLIS: MINERADORA FOI AUTUADA 14 VEZES POR SUSPEITA DE CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL DO RIO POTY

Nove anos depois da instalação de uma mina para exploração de minério de ferro em Quiterianópolis, no sertão dos Inhamuns, o rastro de prejuízos ambientais deixado pela mineradora Globest Participações Ltda, no Ceará, está denunciado em pelo menos 12 autuações (quadro) feitas pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e duas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
De acordo com os documentos do Ibama, da Semace e de denúncias do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração(MAM) e do Escritório Frei Tito de Direitos Humanos, comunidades da serra do Besouro, do Badarro, e parte do rio Poti estão sendo atingidas por contaminação ainda não mensurada.
Técnicos da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial (Nutec), da Universidade Federal do Ceará (UFC), farão um diagnóstico sobre o volume de rejeitos que a Globest deixou vazar para o Poti, em Quiterianópolis, e quanto isso teria atingido o açude Flor do Campo, principal fonte de abastecimento de Novo Oriente e outros municípios.
O registro mais recente de infração da Globest é de fevereiro deste ano. Fiscais do Ibama autuaram a mineradora por poluir o rio Poti com rejeitos de minério de ferro. Com as fortes chuvas de 2019, o material escorreu para o curso da água, que nasce em Quiterianópolis, atravessa o Ceará, corta o Piauí e deságua no oceano Atlântico pelo rio Parnaíba.
De acordo com o superintendente do Ibama, Gabriel Sobreira Lopes, existem pelo menos duas pilhas de rejeitos de minério de ferro que estão contaminando. Uma delas está a 75 metros do leito do Poti. "Muito próximo", esquadrinha o executivo.
O primeiro monte, com sete ou oito metros de altura, se encontra antes de uma estrada de terra. A via, segundo Gabriel Sobreira, está sendo usada de maneira irregular como "barreira" para tentar represar o material que desce com as chuvas.
A outra pilha está após a mesma estrada. No período de estiagem, a Globest fez "uma vala" para evitar a poluição do rio. Tecnicamente, segundo o superintendente do Ibama, não estaria incorreta a solução. No entanto, diz ele, o equipamento foi "mal feito".
"A vala vai descendo e encontra o rio. Ou seja, não serve de nada. Quando chove, a água leva o rejeito até o rio. A priori, por ser um rejeito seco e não úmido, não teria problema. Talvez não tenham pensado na chuva. O Ibama foi lá e constatou a contaminação", disse Sobreira.
De 2012 a 2017, o Ceará enfrentou seis anos seguidos de seca. A mineradora começou a operar em 2010/2011. Entre o ano passado e este ano choveu acima da média em Quiterianópolis.
Em fevereiro do ano passado, a Globest já havia sido fiscalizada pelo Ibama. Na época, a mineradora foi multada em R$ 50 mil por "inadequação dos equipamentos para a contenção de rejeitos" e foi proibida de operar. Na verdade, a empresa já estava com as atividades suspensas. Em 2016, a Semace havia interditado o empreendimento que faz parte de uma sociedade entre chineses (Globest Resources Limited), ingleses (United Goalink Limited) e uma representação brasileira.
Além da multa e da proibição de operação, o Ibama aprovou um relatório determinando o tratamento dos efluentes e a exigência de análise laboratorial para se medir o impacto no ecossistema em torno de um rio que atende o consumo humano, animal, pesca e outros usos.
Após uma reunião de emergência na Assembleia Legislativa (AL), convocada pelos deputados estaduais Renato Roseno (PSol) e Acrísio Sena (PT), ocorrida no último 12/3, ficou acertado que os estudos sobre o crime ambiental seriam bancados pela Globest.
Além das autuações, a mineradora responde a três processos criminais ambientais em Quiterianópolis e um em Sobral. Um deles, por usurpação de águas. Uma nova reunião na AL foi agendada para o dia 16 deste mês. Será apresentado o laudo do Nutec.
O Poti é parte da geografia do Ceará e do Piauí. Da nascente, em Quiterianópolis, à foz, na Parnaíba, são 538 km de extensão. Sua bacia tem 52.370 km², sendo 13.573 km² no sertão cearense e 38.797 km² no semiárido piauiense. O rio está no mapa de 24 municípios dos dois estados.
AS AUTUAÇÕES DA MINERADORA
2011
- Semace autuou a Globest Participações Ltda por extrair minério de ferro em área superior ao estabelecido na licença ambiental, operando de forma irregular em 17,61 hectares. (Auto de Infração 201103025633895)
- Autuada também por armazenar 110,7t de lenha nativa e 1,94m³ de tora de madeira proveniente de desmatamento sem autorização e sem DOF. (Auto de Infração 201103025633900).
- Mais uma multa por destruir floresta ou demais formas de vegetação natural com infringência às normas de proteção, em área de preservação permanente, 400m², sem autorização do órgão ambiental competente. (Auto de Infração 2011040877).
- Explorar vegetação nativa sem aprovação prévia do órgão ambiental, em área de 17,61 hectares, em decorrência da realização de extração de minério de ferro (Auto de Infração 2011040876).

2013
- Deixar de atender condicionantes da Licença de Operação 207/2013 – DICOP (Auto de Infração M201311280802).
- Deixar de atender condicionantes da Autorização Ambiental 03/2012-DIFLO (Auto de infração M20131128002).

2014
- Instalar barreira de contenção de escoamento de sedimentos na APP do rio Poty. (Auto de infração 201406262).
2016
- Instalar e operar atividade potencialmente poluidora (base de armazenamento, envasamento ou distribuição de combustíveis e derivados de petróleo) sem licença ambiental emitida pelo órgão (Auto de infração M21066076801).

2017
- Lançar resíduos sólidos diretamente no solo, em desacordo com exigências estabelecidas em leis ou atos normativos (Auto de infração M201707255201).
- Desmatar a corte raso, floresta nativa, fora da reserva legal, sem autorização da autoridade competente (Auto de infração 201712201).
- Executar extração de minerais sem licença autoridade competente (Auto de infração 201712202).
- Fazer funcionar estabelecimento, atividade utilizadora de recursos ambientais, considerado efetiva ou potencialmente poluidora em desacordo com licença obtida (Beneficiamento de minério de ferro) – Licença de Operação 367/2014 – Suspensa. (Auto de infração 201712203).
2018
- Em fevereiro, o Ibama/Ceará foi até Quiterianópolis autuou e suspendeu as atividades de depósitos de rejeitos de minério de ferro após constatar o lançamento de rejeitos sólidos em recursos hídricos. A suspensão está em vigor.
2019
- Outra fiscalização do Ibama/Ceará voltou a constatou, no dia 21/2, que a disposição e contenção dos rejeitos de minério de ferro não estavam adequadas. 

SAIBA MAIS
LUCROS
- Dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), informam que de 2011 a 2015 a Globest comercializou mais de três milhões de toneladas de ferro entre minério bruto e contido. O que rendeu R$ 106.025.659,00.
- De acordo com Ricardo Sena, técnico da ANM, a Globest repassou R$ 601 mil de “royaltes” para a Prefeitura de Quiterianópolis de 2012 a 2014. 
- A prefeitura, no entanto, afirma que não recebeu o dinheiro referente à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). O técnico da ANM e o advogado da Globest, Neyrton Cardoso, explicaram que a questão está sub judice. 

O RIO POTI
A nascente do rio Poti está na Serra dos Cariris Novos, município de Quiterianópolis, e segue no sentido sul–norte passando por Novo Oriente até Crateús. De lá, segue Teresina, no Piauí, onde atravessa a Floresta de Fóssil (Teresina) e deságua no rio Parnaíba e oceano Atlântico. 
Site: O Povo Online

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